Tiririca conseguiu ler e escrever ontem, em audiência no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). O palhaço de 1,3 milhão de votos - deputado mais votado do Brasil em 2010 -, teve alguma dificuldade, sobretudo na hora de redigir, mas cumpriu as lições que o magistrado lhe passou em longa audiência no 13.º andar da corte.
Réu em ação penal - a promotoria suspeita que não partiu de seu punho a declaração de alfabetização anexada ao pedido de registro de candidatura -, Tiririca foi submetido a um teste de ditado e leitura perante o juiz Aloísio Sérgio Rezende Silveira.
Ele chegou ao TRE às 9h15min (horário local), acompanhado de seu advogado, Ricardo Vita Porto, e escoltado por quatro seguranças. Sem os trajes de palhaço, apresentou-se Francisco Everardo Oliveira Silva, seu nome de batismo, cearense de Itapipoca, “cantor, compositor e humorista”.
O exame gráfico foi realizado vagarosamente. Ele alega sofrer de lesão, causada pelos anos de atividade circense, que o impede de aproximar o dedo indicador do polegar - na defesa à Justiça, há duas semanas, admitiu ter sido ajudado pela mulher a preparar a declaração.
O palhaço atendeu a quase todas as solicitações do juiz Uma só ele se negou a acatar: não se submeteu a perícia técnica para avaliar a veracidade da declaração que apresentou naquele pedido de registro. “Ninguém é obrigado a fazer prova contra si”, declarou o desembargador Walter de Almeida Guilherme, presidente do TRE.
Indagado se Tiririca havia passado no teste, o desembargador foi precavido. “Eu não faria essa afirmação, nem sim, nem não.” Indagado se o deputado eleito provou ser alfabetizado, o presidente da corte esquivou-se. “O juiz é que vai decidir, não sou o relator do processo. O ditado ele escreveu. Agora, se escreve mal ou bem não posso dizer.”
Seja como for, dia 17 de dezembro Tiririca receberá seu diploma, que o habilita a ocupar cadeira na Câmara. Sobre isso o presidente do TRE foi taxativo. “Mesmo que haja condenação não interfere na diplomação. Ele vai ser diplomado, independentemente da sentença”. Diplomado, Tiririca passa a ter foro privilegiado e o processo é encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.
Por que
ENTENDA A NOTÍCIA
Embora tenham direito de votar, analfabetos não podem se candidatar no Brasil. Por isso, os candidatos são obrigados a apresentar comprovante de escolaridade, ou demonstrar capacidade de ler e escrever. O Ministério Público acusa Tiririca de entregar declaração falsa.
COMO FOI O TESTE
Aplicado em três etapas, teve a presença do advogado de defesa, um juiz eleitoral e o procurador autor da ação contra Tiririca
Ditado
O juiz leu em voz alta o seguinte trecho do livro Justiça Eleitoral - Uma retrospectiva, do Tribunal Regional Eleitoral: “A promulgação do código eleitoral, em fevereiro de 1932, trazendo como grandes novidades a criação da Justiça Eleitoral”. Tiririca teve de redigir o texto.
Leitura
Tiririca teve de ler em voz alta o título e o subtítulo de duas reportagens da edição de ontem do Jornal da Tarde: “Procon manda fechar loja que vende produto vencido - Medida inédita suspende as atividades de 11 supermercados da capital durante o período de 12 horas. Segundo o órgão de defesa do consumidor, a aplicação de multa não surtiu efeito, já que as lojas punidas são reincidentes na infração”. A outra reportagem era: “Tributo final a Senna - Estreia, amanhã, filme que homenageia o piloto brasileiro, relembrando os tempos de glória, as brigas com os dirigentes, a rivalidade com Prost e pouco da vida pessoal”.
Interpretação
Tiririca precisou interpretar as notícias que leu.
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